quarta-feira, 18 de julho de 2012

Em algum canto da cidade.

Em algum canto de uma cidade qualquer ela pegou a caneta e seu caderno de capa verde já gasto de tantas página escritas com mágoas e começou a rascunhar o que deveria ser um texto sobre o futuro e sua expectativa sobre isso, mas tudo que ela conseguiu pensar foi sobre o passado.
Foi então que ele bateu a sua porta. Ela não sabia que era ele que estava batendo, achou que era a vizinha pedindo açúcar mais uma vez. Não perguntou, apenas abriu a porta e pensou "Por que ele?".
Ele não disse nada, apenas entrou na casa dela e sentou-se em sua cama, olhando para o chão. O que veio a seguir foi estranho.
Ela perguntou se ele estava bem, ele olhou para ela de soslaio e balançou a cabeça apenas um vez em afirmativo.
Ela perguntou o que ele queria, ele deu de ombros.
Ela, começando a se preocupar, perguntou se ele queria beber um chá, café, água, ou algo assim, ele não se moveu e não respondeu.
Ela, ainda mais preocupada, perguntou se ele estava doente, ele balançou a cabeça dizendo que não.
Neste ponto ela começou a ficar irritada com a atitude e levantou um pouco o tom de voz dizendo que se ele não tinha o que fazer e nem o que falar, que fosse embora. Ele nem se deu ao trabalho de olhar.
Ela, não querendo dar o braço a torcer e dizer tudo o que estava guardado para ele, apenas se sentou ao lado dele, acendeu um cigarro e continuou a escrever.
Ele esperou ela apagar o cigarro e disse que vodka seria bom. Ela perguntou o que ele queria dizer com isso e ele retrucou que ela tinha perguntado o que ele queria beber e que vodka seria bom.
Ela se levantou, pegou a garrafa de sua vodka russa e colou em um copo sem gelo, pois sabia que ele gostava assim.
Entregou a ele o copo, acendeu um cigarro e entregou a ele, feito isso, sentou-se novamente e continuou escrevendo o texto.
Ele se levantou, foi até o aparelho de som, pegou um dos discos de jazz que ela tinha (sim, ela gostava de jazz e gostava de vinil) colocou para tocar e disse que ela sempre escrevia melhor quando ouvia jazz.
Sentou-se novamente e pegou mais um cigarro do maço dela que estava em cima da cama.
Ela terminou o texto, fechou o caderno e olhou para ele.
Ele terminou a vodka em um gole só, pegou mais dois cigarros e colocou-os no bolso e foi em direção a porta.
Ela perguntou se era só isso, se ele fora até ali para não dizer nada e ir embora
Ele disse: "Vim apenas porque percebi que você estava escrevendo sobre seu passado, sou o seu passado. Bebi sua bebida e fumei os seus cigarros. Se você continuasse escrevendo, poderíamos acabar fazendo sexo e eu poderia vir morar aqui e continuar te consumindo. Mas você parou. Você ainda me quer por aqui para que possa sofrer e nega isso para si mesma o tempo todo. Pois bem, sempre que quiser sofrer, eu darei uma passada por aqui."
Feito isso, ele saiu e deixou a porta aberta.
Ela se levantou, fechou a porta e colocou fogo no caderno verde.

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